De Caçador ao Bolshoi: conheça Malu Zardo
- Caçarelatos
- 28 de mai. de 2018
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Maria Luiza Zardo, de 23 anos é a querida “Profe Malu”, professora de Ballet na Secretaria de Esporte, Cultura e Turismo de Caçador. Quem olha para ela, não enxerga sua longa trajetória de dificuldades e conquistas. Ela já passou pela Companhia do Bolshoi, é formada em dança pela Companhia de Teatro Guaíra de Curitiba e tem diploma em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná.

Malu dança desde os dois anos. Ela conta que chegou a aprender outros ritmos, por falta de professores de ballet: “ A professora de ballet que me dava aula, foi embora de Caçador e eu fiquei meio órfão de professor. Na falta de ballet, comecei a fazer vários tipos de dança, com todos os professores que existiam em Caçador. Teve um tempo em que eu tive que fazer dança de rua, por que era a única coisa que tinha”- comenta.
E foi com a dança de rua que Malu conheceu o Bolshoi: “Nesse ano em que eu estava na dança de rua, nós fomos nos apresentar em Joinville e foi lá que eu conheci a escola do Bolshoi. Quando eu conheci, tive a certeza de que era isso que queria para mim".
Eu percebi que a dança não era só aquilo que me apresentaram aqui em Caçador, que eu podia ir mais longe!

Naquele momento, a menina não ganhou permissão da mãe para fazer o teste, pois tinha apenas nove anos. Porém com 12 anos, Malu convenceu a mãe, que a levou para Joinville. No teste, eram 18 mil inscritos para 40 vagas. Mas o talento da menina se sobressaiu e ela conseguiu a vaga. Passou então a morar na “Casa do Bolshoi” com outros 17 bailarinos.
“Nós pagávamos um valor por mês e tínhamos uma pessoa responsável que ficava conosco, chamávamos de “Mãe Social”. No começo foi muito difícil pois é tudo muito diferente da minha casa. Eu dividia quarto com oito meninas. Muitas vezes eu tive que acordar de madrugada para tomar banho, por que um banheiro só não dava conta de tanta gente". revela a bailarina.
Após dois anos, Maria Luiza passou a morar com o irmão: “Isso fez tudo ficar mais confortável, mais parecido com a minha casa. Ficou mais fácil... em partes, porque na casa do Bolshoi, tinha uma pessoa para lavar roupa, fazer comida e morando com meu irmão, os serviços domésticos eram por minha conta. Mas acho que valeu a pena, eu amadureci muito com essa experiência".
Com 14 anos, o corpo da jovem começou a se desenvolver. E acabou saindo dos padrões russos, de uma menina alta, longilínea e magra, que era o que o Bolshoi cobrava. Desde cedo, as dietas fizeram parte da rotina de Malu
Eu nunca me esqueço que em um aniversário meu, compraram bolo, docinhos e eu não podia comer nada. Isso me marcou.
Várias vezes eu me questionei: Será que é isso mesmo que eu gosto no ballet? Será que é esse ballet que eu quero para mim?

Nesse mesmo período, Malu foi se apresentar em Curitiba, no teatro Guaíra. Lá, ela conheceu a Companhia do teatro Guaíra e percebeu que aquelas bailarinas tinham outros padrões
“Eu olhava aquelas mulheres com os corpos cheios de curvas, com seios fartos. Eu via aquelas bailarinas e elas eram mais parecidas comigo. Então fiz o teste, passei e fui morar em Curitiba. Lá foi onde realmente me encontrei. Fiquei por nove anos, me formei, participei da companhia jovem, e quando chegou no período de faculdade, acabei fazendo faculdade em Curitiba mesmo, e hoje sou formada em Dança pelo teatro Guaíra e tenho diploma de Educação Física pela Faculdade Federal do Paraná”.
Malu conta por que voltou para Caçador: “Eu tenho uma prima que fazia ballet aqui em Caçador, e quando eu perguntava para ela como estavam as aulas, não sentia aquele brilho nos olhos dela. Quando senti que as crianças daqui não sentiam mais aquele encanto que eu sentia, pensei que era hora de voltar”.

A bailarina se tornou professora através de um concurso público, e revela que a experiência apesar de difícil, é muito gratificante: “Eu gosto de trabalhar na Cultura, por que eu sempre ouvi que ballet não é para todo mundo, que é uma atividade cara. Aqui, nós conseguimos oferecer gratuitamente. Saber que tantas crianças estão podendo viver essa experiência, para mim é mágico.
Eu não seria quem sou se não existisse o ballet em mim. Ballet é mais do que ensinar meninas a dançar. Estou trabalhando para fazer das minhas alunas seres humanos melhores”.
Confira o primeiro vídeo do canal da bailarina no youtube:
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